Sempre estamos pensando que a vida deve ser repleta de vitórias, de conquistas e de glamour e, a cada momento, alocamos todos nossos pensamentos, palavras e ações visando alcançar tais patamares, os quais são intangíveis e efêmeros, mas mesmo assim desejáveis.
Certamente é salutar estabelecer metas para serem alcançadas durante nossas existências porque as mesmas servem como força propulsora que nos impelem a seguir labutando em prol do desenvolvimento pessoal ou grupal.
No entanto, temos a mente condicionada para o remate de que cada realização é geradora apenas de benefícios, muito embora esse estado de consciência reflita somente uma parcela da real interpretação que deve ser derivada de todos os logros porque cada conquista que obtemos é, inevitavelmente, compartilhada por alguma privação resultante de tal conquista.
Em outras palavras, quando nascemos, temos o gozo de chegar a este mundo, porém perdemos o cálido e tranqüilo ambiente do útero materno. Quando ingressamos na escola, adquirimos conhecimento, mas somos privados das horas vagas que utilizaríamos para brincar com nossos amigos. Quando decidimos participar da equipe de esportes da escola, ganhamos novas amizades e satisfações, mas deixamos de sentir o regozijo de participar do grupo de danças. Quando escolhemos uma profissão, obtemos o benefício de auxiliar a sociedade via nossas habilidades e conhecimentos alocados ao nosso meio, porém isto acontece em detrimento da possibilidade de ter optado por vários outros ofícios disponíveis no mercado.
Similarmente, quando decidimos nos casar, somos beneficiados pelo auspicioso brinde que ter uma família nos regala, porém cessamos de ter posse da liberdade de escolha e ação advindas do solteirismo. Quando selecionamos um lugar para visitar durante as férias, colhemos as alegrias e prazeres da viagem, contudo, abdicamos de quem sabe termos experimentado melhores contentamentos noutros lugares que não visitamos e, finalmente, quando alocamos nossos esforços num objetivo, deixamos de lado a possibilidade de termos nos direcionado a outro caminho.
Analisando sobre outra perspectiva, quando a saúde nos é privada por alguma enfermidade que bate à porta, ganhamos, ainda que forçosamente, tempo para nos recuperarmos e, principalmente, para nos conscientizarmos de que é necessário cuidar do nosso veículo chamado corpo. Quando a solidão invade nosso ser, recobramos a consciência da valorização da amizade e da comunhão, tanto para o eu quanto para os outros. Quando um relacionamento se finda, adquirimos a licença para encontrar amor noutro ser.
Semelhantemente, quando adversidades quotidianas apresentam-se em nossas vidas, obtemos a oportunidade de utilizar nossos conhecimentos, habilidades e ações para encontrar as almejadas soluções e, resumindo, quando perdemos a vida, ganhamos a liberdade da limitação que o tempo e o espaço impõem ao nosso espírito.
Destarte, é de vital importância que tenhamos sempre em mente a real, pragmática e inevitável percepção de que todos os acontecimentos são regrados pelo princípio de que todo ganho é uma perda e, similarmente, que toda perda é um ganho.
Assim, quando abrimos nossa consciência para esta ordem, muitos dos desânimos, tristezas ou angústias que sofremos durante nossas vidas são minimizados ou extinguidos, assim como as alegrias e euforias são alocadas de maneira harmônica e construtiva por termos desenvolvido a racional habilidade de ver as mais variadas situações sob o prisma da inter-relação entre ganho e perda.
Em conclusão, que todos os pensamentos, palavras e ações que nos cercam sejam conscientes de que todo lucro é gerador de uma privação e que toda perda concebe também um ganho.